Equipe: Alcicleide Almeida, Aryene de Castro, Erilane Facunda,Gibran Rezala, Izolda Pontes e
Jorge Miguel
SERINGUEIRA
Da exploração a extinção
A borracha começou a despertar o interesse mundial a partir de 1762, quando o botânico Fuset AubleyI descreveu a Havea brasiliensis e nesse mesmo ano, Fresneau, depois de haver pesquisado durante cerca de 20 anos a liquefação do produto coagulado, comunicou ao governo francês o fato de ter conseguido dissolvê-lo em terebentina.
Depois de 1845, quando a vulcanização propiciou uma maior comercialização da borracha, o volume de exportação desse produto, na Amazônia, passou a aumentar. Devido esse crescimento sua importância para a crescente indústria automobilística, seu cultivo homogêneo em larga escala foi tentado pela companhia FORD em Fordlândia (1928) e Belterra (1934), ambas no estado do Pará. Mas devido a incidência do fungo Microcyclus ulei , causador do mal da folhas, que dizimava as plantas, os empreendimentos foram abandonados .
No final dos anos 30, o Brasil se envolveu nos esforços de guerra ao lado dos aliados e assumiu a obrigação de garantir o fornecimento de borracha natural. A atividade de produção de borracha natural extrativa na Amazônia tende a desaparecer devido à competição quer seja pelos substitutivos sintéticos que seja pelos plantios racionais em áreas livres do ataque do mal -das- folhas.
SERINGUEIRA
Seringueira é uma árvore da família das Euphorbiaceae (Hevea brasiliensis) de folhas compostas, flores pequeninas e reunidas em amplas panículas, com fruto em uma grande cápsula com sementes ricas em óleo, cuja madeira é branca e leve, e de cujo látex se fabrica a borracha. Foi introduzida na Bahia por volta de 1906.
É uma árvore originária da bacia hidrográfica do Rio Amazonas, onde existia em abundância e com exclusividade, características que geraram o extrativismo e o ciclo da borracha, período da história brasileira de muita riqueza e pujança para a região amazônica, até que grandes hortos fossem plantados para fins de exploração, por ingleses, no continente africano tropical, na Malásia e no Sri Lanka. Dela podemos retirar o látex, para fazer a borracha e outras utilidades.
Em 1830 a exploração da seringueira em Manaus-AM aumentou muito, para fazer-se uma idéia, nessa época (1830) a população de Manaus era de 3.000 habitantes, com a exploração da planta, muitos imigrantes vinham para cá, assim, a população aumentou em 1880 para 50.000 habitantes, em 50 anos.
Um exemplo dessa riqueza, é o teatro de Manaus, Teatro Amazonas, que é construído com muito luxo, e suas ruas aos redores, são calçadas com borracha, para que as carruagens que passam na frente não fazerem barulho e atrapalhar o espetáculo que está à ocorrer.
Em 1906 já estava sendo exportadas mais de 80.000 toneladas de látex para todo o mundo, entretanto, nesta mesma época, um inglês chamado Henry Wickman, começou a contrabandear sementes de seringueira do Brasil, para a Malásia (situada no continente asiático), que começou a produzir mais que Manaus, o que fez com que a riqueza aqui diminuísse muito.
EXTRATIVISMO
Há sangria é a etapa mais importante da vida útil do seringal, uma vez que trata da extração do produto final. Abertura de painel deve ser feita quando cerca de 50% das plantas apresentarem circunferência igual ou superior a 45 cm a altura de 1,5 acima do solo. Atualmente há vários sistemas de exploração em uso, sendo que, na escolha, deve-se levar em consideração o clone, a fase de exploração e as condições ambientais. A fim de se obter um maior rendimento da mão-de-obra e aproveitar o potencial máximo de produção das plantas, deve-se empregar sistemas com freqüência reduzida de sangria e estimulação.
ECONOMIA
A importância econômica e industrial da borracha natural fazia da seringueira uma árvore estratégica, sendo cobiçada pelos ingleses que levaram as sementes e plantaram nas suas colônias na Ásia.
Na Ásia a seringueira foi cultivada como uma espécie comercial, diferentemente do Brasil, onde estava em seu habitat natural. Portanto, enquanto o sistema de produção brasileiro era o extrativismo, o asiático se baseava na exploração comercial. Esse foi o principal fator de sucesso da produção de borracha na Ásia. Além desse aspecto agronômico, na Ásia não existia o fungo causador do mal das folhas (Microcyclus ulei), que é uma das doenças mais comuns dos seringais - sobretudo na Amazônia.
O Brasil começou a perder credibilidade no mercado mundial, não conseguia competir com a Ásia, pois as árvores que são plantadas nos solos brasileiros sofrem com o mal das folhas.
O governo insistia na extração de borracha na região Amazônica, investindo dinheiro para substituição do sistema de produção. Mas, quase todas as tentativas de cultivo da seringueira na Amazônia fracassaram devido o fungo microcyclus.
O impacto na economia extrativista da Amazônia foi muito forte. As tensões cresceram entre produtores e seringueiros.
PRODUTO
O látex é uma secreção esbranquiçada, raramente amarelada, produzida por algumas plantas como a papoula e a seringueira quando seus caules são feridos e que tem a função de, uma vez consolidada com a oxidação, provocar a cicatrização do tecido lesado, por onde fluiu.
Largamente utilizado pela indústria para confecção de luvas e drenos cirúrgicos, é um material que pode causar processos alérgicos (dermatite de contato) de intensidade variável.
As principais características da borracha natural que a tornam uma excelente matéria-prima para setores tão variados são: elasticidade, flexibilidade, resistência à abrasão e à corrosão, impermeabilidade e fácil adesão a tecidos e ao aço.
A cadeia agroindustrial da borracha natural é composta por:
Segmento de insumos e serviços
- máquinas e equipamentos;
- assistência técnica;
segmento produtivo
- produção e extração do látex virgem;
- beneficiamento da borracha natural;
segmento consumidor
- indústria pesada (pneumáticos);
- indústria leve (artefatos);
segmento distribuidor:
- atacadistas e varejistas (de pneus e artefatos);
- recauchutagens;
- borracharias;
A indústria de artefatos, por sua vez, abrange diversos setores:-
-hospitalar/farmacêutico: catéteres, luvas cirúrgicas, tubos, preservativos, próteses, etc;
- brinquedos: balões, máscaras, bonecos;
- vestuário: tecidos emborrachados, meias, elásticos;
- calçados: solados, adesivos, etc;
- construção civil: pisos e revestimentos de borracha, placas, vedantes, etc.
- maquinário agrícola e industrial: revestimentos internos de cilindros, artigos prensados e peças em geral;
- auto-peças: câmaras de ar, batedores, coxins, guarnições, retentores, camel back (para recauchutagem), correias transportadoras, etc.
EXTINÇÃO DA ÁRVORE
O Brasil só começou a acreditar na borracha quando descobriu que poderia cultivar a seringueira fora da região amazônica, escapando do mal-das-folhas e utilizando modernas técnicas agronômicas.
Com o tempo os agricultores e pesquisadores começaram a levar a seringueira para regiões localizadas mais ao sul do país. Além disso, todas as políticas públicas, que sempre foram destinadas exclusivamente à borracha da Amazônia, passaram a contemplar, igualmente, as iniciativas de cultivo em outras regiões. Mas isso só começou a ocorrer nas décadas de 1970 e 1980.
As regiões Sudeste e Centro Oeste do Brasil têm ótimas condições de cultivo, particularmente nos estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Espírito Santo.
Nessas regiões, há mão-de-obra especializada e maior volume de capital para investimento em tecnologia. Além disso, a maioria das indústrias consumidoras está ali instalada, reduzindo os custos logísticos com o transporte da matéria-prima. O clima apresenta-se adequado para a seringueira, que perde suas folhas na estação seca, cortando o ciclo do fungo causador do mal-das-folhas e, conseqüentemente, mantendo as árvores sadias.
Apesar de todos os desafios, o cultivo da seringueira no Brasil está se estabelecendo como uma atividade lucrativa e sustentável. A produção ainda é pequena, mas cresce substancialmente a cada ano.
A indústria de beneficiamento de borracha passou por um forte período de modernização a partir de 1996, conseguindo produzir borrachas de elevado padrão de qualidade.
As perspectivas de crescimento da produção de borracha natural no Brasil são muito positivas. Espera-se que dentro de alguns anos o país possa, pelo menos, suprir as necessidades da indústria nacional.
A seringueira também ganha destaque nas discussões sobre efeito estufa e aquecimento global, uma vez que estudos mostram que a árvore pode fixar carbono e, desta forma, contribuir para a redução dos gases de efeito estufa.
Além disso, a Hevea brasiliensis é uma espécie apta à reposição florestal e sua madeira pode ser comercialmente explorada.
No Amazonas o Programa de Pesquisa da Seringueira, da Embrapa ( Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), tem avaliado o desempenho da produção de borracha natural a partir dos clones de painel utilizando as técnicas da enxertia de clones de copa resistentes. Os clones de copa foram desenvolvidos por meio da seleção e de cruzamento controlados entre outras espécies de seringueira resistentes ao mal-das-folhas, com destaque a Hevea guianensis var marginata, Hevea paucifora e Hevea rigidifolia.
PING-PONG
Em razão da alta suscetibilidade da seringueira ao fungo causador do mal das folhas, a EMBRAPA ( Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolve no território, projeto de pesquisa realizando mutações para combater o inimigo número um da Hevea brasiliensis.
O pesquisador José Roberto Fontes, concedeu uma entrevista para a revista ECOARTE falando um pouco dessa pesquisa realizada.
Ecoarte: Quais as características da borracha natural e da borracha sintética?
José Roberto Fontes: A seringueira Hevea brasiliensis é a principal espécie vegetal que produz borracha natural. Existe a produção de borracha sintética que é derivada de petróleo e a borracha natural que é produzida pela seringueira. A borracha natural tem algumas características, algumas qualidades industriais que a borracha sintética não tem, por exemplo, o pneu de aviação de altíssima resistência a pressão, a impacto, porque uns aviões desses aí, jatos comerciais pesa 90 toneladas, 50 toneladas dependem da carga que transportam. Um pneu desses quando batem no solo podem estourar então a borracha natural é um dos poucos compostos que tem essa característica de resistir à pressão. Luva cirúrgica também, preservativos, látex natural tem algumas qualidades que permitem que sejam feitas vários tipos de produtos industrializados.
Ecoarte: Qual o maior País produtor de borracha natural atualmente?
Fontes: Os maiores países de borracha natural, atualmente estão situados na Ásia. Principalmente Malásia, Indonésia e Tailândia. Na índia tem apresentado um crescimento expressivo tanto na área plantada com seringueira, quanto na parte de produção. E tantos outros países estão se dedicando ao plantio, Vietnã e China.
Ecoarte: Hoje ainda existem seringueiros?
Fontes: Segundo a Secretaria de Produção Rural do governo do estado (SEPROR- AM) tem um programa de fomento da produção e ano passado foi informado que existia cerca de 2.300 à 2.400 seringueiros assistidos por esse programa.
Ecoarte: Em sua opinião como pesquisador, o número de seringueiros está dentro de um nível padrão? Está acima ou abaixo?
Fontes: Na realidade deve existir muito mais seringueiro fazendo a extração do látex, eu não tenho essa informação para dar, porém deve haver alguma dificuldade em atender a todo. Pense em um estado desse tamanho, tem seringueiro lá no Juruá, no alto Purus, alto Solimões então muitos espalhados. Na Calha do Madeira também tem seringueiro e em direção do Pará. São informações nós não temos devido à falta de acesso.
Ecoarte: Como está a produção de seringa e a exportação atualmente?
Fontes: Hoje, o Brasil praticamente importa 2/3 do que consome. O nosso consumo atualmente esta na faixa de 340 mil toneladas de borracha natural por ano. É a gente produz em média 120 mil toneladas de borracha por ano. Ou seja, temos que importar cerca de 65% do que consome. É perda de divisa porque estamos deixando de produzir aqui e temos que gastar pagar em dólar para produzir.
Ecoarte: Existe algum projeto da Embrapa para valorizar mais a seringa?
Fontes: A Embrapa foi criada aqui em Manaus como centro nacional de pesquisa de seringueira em 1974, justamente pra concentrar pesquisadores e esforços de pesquisa para gera resultados que possibilita-se o aumento da produção e do plantio racional das seringueiras.
Ecoarte: Esse projeto esta trazendo os resultados que eram aguardados?
Fontes: A seringueira era atacada por um fungo que se chama mal das folhas essa doença provoca a queda das folhas, a planta tenta se reifolhar novamente e é atacada de novo, com isso, o fungo acaba matando a árvore com isso pensou-se então na possibilidade de fazer o cultivo empregando a técnica da enxertia de copa resistente. Que é a substituição da copa própria do clone de painel por um clone de copa que é tolerante e resistente ao mal das folhas.