sexta-feira, 15 de maio de 2009

FLORESTAS ENERGÉTICAS

A energia que vem da Floresta, sem degradação
O projeto “Florestas energéticas” visa além de reflorestar áreas degradadas, produzir energia para as olarias que abastecem o Amazonas.


O Estado do Amazonas tem apenas cerca de 2% de sua área verde total desmatada, mesmo assim a extração de madeira, uma das principais matrizes energéticas cuja demanda aumenta a degradação do meio ambiente, é um dos seus maiores problemas.
A maior parte das indústrias possui fornos abastecidos com madeira oriundas do extrativismo desordenado das florestas, onde não é aplicada nenhuma técnica de manejo ou reflorestamento, o que faz com que a floresta comercialmente explorada não seja mais capaz de sustentar a demanda exigida pelo mercado.
Porém, para reverter essa situação, foi criado um projeto piloto chamado “Florestas energéticas” da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), com apoio financeiro da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
O mercado dos produtos das Florestas Energéticas é bem variado, e de acordo a classificação do Programa Nacional de Florestas (PNF) do Ministério do Meio Ambiente, esses produtos são: chapas e compensados, óleos e resinas; fármacos; cosméticos; alimentos; carvão, lenha e energia; papel e celulose; madeira e móveis.
Mas o termo "florestas energéticas" é mais usado referindo-se ao manejo de florestas plantadas para produzir energia que não sejam oriundas de combustíveis fósseis, fornecedoras de biomassa florestal (matéria orgânica utilizada na produção de energia), com o objetivo de repor os volumes de madeira explorados, além de produzir lenha e carvão para uso das indústrias, evitando o desmatamento das florestas naturais.
O projeto “Florestas energéticas” da EMBRAPA tem como finalidade reflorestar áreas que estão em processo de degradação, para recuperar florestas nativas que anteriormente foram usadas para a produção de energia em olarias, tais como nos municípios de Iranduba (à 25 km de distância de Manaus) e Manacapuru (à 84 km) cuja produção de tijolos e telhas abastece não somente Manaus como todo o Amazonas e que, por isso, são os dois municípios com os maiores índices de desmatamento no estado, onde 20% é referente a Iranduba e 10% a Manacapuru.
Esse projeto começou a ser estudado e desenvolvido em 1995, dividido em três fases, como explica o engenheiro florestal e doutor em silvicultura Roberval Lima: “Primeiramente fizemos uma pesquisa junto com as empresas que usam este produto - lenha, carvão - identificando quais espécies elas estavam usando da floresta nativa e montamos uma lista de espécies. Então já com esta lista, fomos para a segunda fase do nosso trabalho que seria a obtenção das sementes, em que selecionamos as áreas onde se encontram estas espécies e começamos a fazer um acompanhamento delas para obtermos sementes de qualidade. A partir da identificação das áreas de ocorrência dessas espécies, fazemos a coleta das sementes e passamos a produzir as mudas para instalação do experimento. Esse experimento apresenta uma metodologia na qual nós estabelecemos um plantio, com todas as espécies que nós identificamos para daí fazermos uma analise das principais espécies que tem melhor crescimento e que melhor se adaptam ao clima e ao solo que estamos testando. Nessa primeira fase, nós começamos trabalhando com cerca de 60 espécies. Depois entramos no período de testes, com três anos de duração aproximadamente, que equivale a 10% da rotação desta cultura que gira em torno de trinta anos, em que se coloca o máximo de espécies no menor espaçamento de área possível. É o que chamamos da fase do arvoredo.
Colocamos dez plantas por linha de cada espécie e então testamos as que seriam potenciais. As potenciais são as espécies que sobrevivem em altas porcentagens. Outro critério é o crescimento alto, acima de dois metros de altura e meio centímetro de diâmetro por ano. Levamos em consideração a qualidade da madeira, se está apta para a produção de energia. As que crescem mais rápido e tem alto poder calórico, a gente trabalha para a produção de madeira de uso energético – lenha, carvão, etc. Depois foram selecionadas 12 dessas 60 espécies para serem profundamente trabalhadas para a produção de madeira para energia. Dentre estas 12, temos a Ingá e o Sclerolobium paniculatum (taxi-branco; jacarandá canzil) e também testamos espécies exóticas, que são utilizadas em outros países, mas que tem bom crescimento, como a Acacia mangium (acácia-australiana) originária da Austrália, Acacia auriculiformis, Guimerina Arbórea e Bambusa vulgaris var. vitatta (bambu), além do eucalipto, que já é muito usado no Sul e Sudeste do país, e estamos trabalhando para ver se conseguimos um clone, uma variedade que se adapte melhor ao nosso solo e ao nosso clima. A segunda fase do processo chama-se eliminação de espécies. Essa fase dura em torno de um quinto da rotação da espécie, ou seja, cinco anos. Até sete anos, mais ou menos, nós fazemos nossas observações, só que numa área maior, não mais em uma linha com dez plantas, para termos um dado cientificamente mais apurado.

A terceira fase é a implantação de projetos pilotos, junto aos produtores. Aí já são áreas maiores que um hectare, dois hectares de terra ou até mesmo cinco hectares, uma área produtiva para nós estudarmos. Já faz uns dois anos que estamos trabalhando nessa terceira fase com os empresários das olarias do pólo cerâmico-oleiro de Iranduba e Manacapuru.”
Quanto à parceria estabelecida junto à Fapeam, Roberval conta: “a fundação entrou com um recurso médio de cem mil reais, onde montamos os módulos produtivos, já junto aos empresários, para que eles testassem essas espécies na sua produção de tijolos e telhas, como lenha em seus fornos. Ao mesmo tempo, este projeto já serve como um plano demonstrativo para os outros empresários, e tem surtido um bom efeito, a partir do momento que eles vêem a floresta em pé e produzindo madeira de modo sustentável, além de a mão-de-obra ser barata. Hoje, realmente, existe uma procura altíssima para a produção de madeira sustentável. Até porque as normas ambientais não permitem mais que esse consumo seja feito de modo destrutivo, sem a reposição das espécies.”
O engenheiro assegurou que ainda não identificaram nenhuma praga ou doença, que já começaram estudos para melhoramento genético das espécies e que continuam fazendo testes de espaçamento. “Mas a questão principal do uso dessa tecnologia é mesmo a de atendimentos as normas ambientais. As florestas energéticas só podem ser implantadas em áreas que já foram desmatadas. Você não pode, legalmente, desmatar uma mata, para implantar esse tipo de projeto. Nas florestas energéticas, consideramos que após dois anos do plantio, você já tem material para utilizar. Mas quando começamos a pensar em sustentabilidade, em um plantio numa mesma área, num mesmo solo, de dois em dois anos, você extraindo, colhendo, então com o tempo temos que pensar na reposição dos nutrientes deste solo.”, esclarece.
Essa sustentabilidade também uma das principais preocupações do pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Philip Martin Fearnside: “O manejo florestal também pode produzir biomassa para energia, mas requer cuidados especiais para assegurar a sustentabilidade e para limitar os impactos ambientais. Quando a floresta tropical é manejada para a produção de carvão vegetal, as árvores pequenas são as preferidas, diferentemente do manejo para a madeira de lei, onde as grandes árvores são as mais valiosas. A preferência por árvores pequenas significa que a sustentabilidade de produção em longo prazo pode ser prejudicada, se estas classes de idade forem eliminadas. Também aumenta a tentação para simplesmente explorar toda a área, pois a mesma floresta pode atender aos mercados de carvão vegetal e de madeira de lei.” (http://www.revistaopinioes.com.br/cp/materia.php?id=231)
Já é possível pensar numa expansão do projeto, pois estão sendo feitas reuniões tanto com órgãos ambientais como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), além de outras instituições, para a elaboração de um grande projeto pró-região, para atender essa demanda. “Nós temos um projeto que se chama “florestas energéticas na matriz agro-energética brasileira”, em que contamos com a participação da EMBRAPA florestas do Paraná, a EMBRAPA agro biologia, a EMBRAPA Rio de Janeiro, a EMBRAPA Amazonas e todas as outras EMBRAPAS da região norte participando.”, explica Roberval.
Contudo, apesar do assunto parecer recente, já é visto como uma boa saída para o reflorestamento e fornecimento de energia. Tanto que, com a proposta de discutir e difundir a idéia de plantio de florestas para fins energéticos acontece de dois a cinco de junho deste ano, o primeiro Congresso Brasileiro sobre Florestas Energéticas, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O evento é promovido pela Embrapa Amazônia Ocidental e o Governo de Minas Gerais, com a previsão de receber mais de 1500 participantes. (http://www.florestasenergeticas.com.br)


Roberval Lima, doutor em silvicultura e engenheiro florestal
Por: Clarissa Bacellar, Daniele Prestes, Dário Monteiro, Eliete Guedes, Filipe Augusto, Rômulo Araújo e Wallace Abreu.

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